Último Aviso
Iracema Dantas
“Atenção, pessoal! Amanhã será o último dia que vocês poderão morar neste espaço”.
A voz do advogado, um elegante e imponente cágado, soou austera para aqueles inquilinos.
“Meu Deus, para onde eu irei?”, perguntou indignada uma minhoca encostada a uma folha.
“Vire-se”, respondeu-lhe o girassol com ares de desdenho: “Eu estou feliz. Terei a oportunidade de mostrar, em outro local, minha beleza e formosura”.
Num choro inconsolável, a minhoca murmurou aos ouvidos do coelho:
“Não conseguirei viver longe daqui. Nasci aqui e sempre vivi neste pedacinho de terra. Para mim esta terra é tudo”.
A borboleta, exibindo incríveis vôos rasantes, tentou consolar a minhoca, dirigindo a ela palavras de conforto.
“A gente se acostuma a tudo. Tente achar um outro pedaço de terra onde você possa viver”.
“Não consigo. Minha vida está aqui, nesta terra. Nunca conseguirei viver em outro local. Tenho certeza!”
A conversa corria solta quando dr. Cágado pediu silêncio para encerrar a reunião.
“Amanhã vocês já deverão estar em outro espaço. Aqui será construído um grande centro comercial. O maior e o melhor da cidade”.
Debaixo de muito sofrimento, a minhoca viu as flores, fácil, fácil, conseguirem se mudar, assim como as borboletas e os caracóis. Entretanto, ela tentava, de todas as formas, continuar se abrigando por ali mesmo.
A retirada dos escombros estava sendo feita e despertava grande aflição na minhoca, que não perdia um só movimento dos técnicos e das máquinas. Com significativo esforço, tentava dominar o cansaço. Vencida pelo sono, encostou-se a um cantinho e dormiu. Dormiu e sonhou que morava em um jardim bonito, onde borboletas multicoloridas dançavam alegremente em volta das flores. E ela, a minhoca, passeava tranquilamente.
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