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Beijão da Tia Paula

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O desenho infantil

Desenhos infantis revelam sonhos e ajudam a identificar problemas como agressividade, timidez ou insegurança

É inevitável: em algum momento toda criança pede papel e lápis para desenhar. O resultado pode variar de rabiscos, bolinhas e manchas disformes até a indefectível casinha, mas dificilmente será uma transposição fiel da realidade. Poucos adultos conseguem perceber o quanto o desenho infantil pode ser revelador: traduz o grau de maturidade da criança, seu equilíbrio emocional e afetivo, seu estágio de desenvolvimento motor e cognitivo.
 Pais que dão pouca atenção às garatujas produzidas por seus filhos ou educadores que encaram a atividade de desenhar como um tapa-buracos para os instantes de sua ausência em sala de aula estão perdendo uma grande oportunidade. Em muitos casos, o desenho pode expressar sensações e sentimentos que a criança não conseguiria mostrar de outra forma. Observando melhor as linhas do desenho infantil, é possível descobrir atrasos no ritmo de desenvolvimento, excesso de timidez ou mesmo dificuldades no relacionamento familiar.
 Embora não haja regras fixas, há muito a ser observado no desenho. O exemplo da casinha, tão comum na temática infantil, por si só já é bastante rico. Casas feitas no ar, sem um chão, uma base, podem representar essa falta de parâmetros ou de segurança da criança. Janelas e portas muito pequenas podem significar sua dificuldade de abertura e de contato com o mundo externo. Ou podem ter conotação de tristeza ou timidez. Uma grande variação de cores pode representar alegria e expansão. O telhado da casa costuma ser muito importante, pois simboliza o conteúdo de sonhos e fantasias.
 Os primeiros registros de linguagem escrita, ainda na pré-história, tinham a significativa forma de desenhos. As chamadas pinturas rupestres, encontradas nas paredes de antigas cavernas, traziam a representação simbólica da forma de viver do homem primitivo, seus conhecimentos, seus medos, suas divindades. De forma análoga, assim como foi marcante nos primórdios da evolução histórica, também no início do processo de desenvolvimento humano, o desenho cumpre um papel relevante.
 'O desenho surge antes da escrita e se constitui numa forma de expressão bastante espontânea da criança, revelando sua maneira de ver o mundo', resume Mônica Guttmann, psicóloga e especialista em arte-terapia e arte-educação pelo Instituto Sedes Sapientiae, de São Paulo.
 'A criança está integralmente presente em tudo o que faz, principalmente quando existe um espaço emocional que o permita. Existe um pensar por trás do seu fazer, por trás de suas pequenas operações, como subir e descer uma escada, balançar insistentemente um chocalho, amassar um papel', comenta Edith Derdyk, artista plástica e educadora, em seu livro Formas de Pensar o Desenho (leia mais na pág. 34).
 Nem sempre o adulto consegue captar no papel a rapidez do raciocínio infantil. Se a criança desenha uma chuva que derrubou a casa, talvez seja porque ela está passando por um momento tempestuoso. Mas logo depois ela pode vislumbrar e desenhar o sol. Misturas de temas como essas podem ser erroneamente interpretadas como algo confuso ou conflitante. Por isso é tão relevante observar também o contexto e dialogar com os pequenos desenhistas.
 Maria Alice Proença é coordenadora de educação infantil da Escola Lourenço Castanho e trabalha no maternal com crianças de 1 a 4 anos. O desenho e outras expressões artísticas ocupam espaço privilegiado no projeto pedagógico da escola e são vistos como outras formas de comunicação da criança, sem a preocupação em avaliar. 'O educador olha se a criança está explorando os movimentos das garatujas, procurando oferecer estímulos', diz Maria Alice. Ela explica que se o aluno não ocupa todo o espaço da folha, provavelmente não ocupe todo o espaço do ambiente – o que pode acontecer por pura timidez (leia mais no quadro à pág. 35). Se for assim, a professora leva a criança a explorar melhor o pátio da escola, por exemplo.

Até os 4 anos, as crianças ainda não desenham figuras, mas há uma evolução nas garatujas. O traçado começa linear, passa a ser circular e aos poucos a criança sai de pontos específicos e consegue usar todo o papel. A escolha de cores não é tão importante nessa idade, quando os arabescos tendem a ser monocromáticos. Quando a criança consegue evoluir das linhas retas para as bolinhas é sinal de que está concluindo o maternal. 'E aí já se refere a si como ‘eu’', explica Maria Alice. Coincidentemente, o fechamento do círculo no papel simboliza o fechamento do ciclo básico do desenvolvimento, importante tanto para sua estruturação como indivíduo quanto para formar a competência para a escrita.
 Tereza Cristina Pedroso Ajzenberg, psicóloga especializada em gestalt terapia e arte-terapia pelo Instituto Sedes Sapientiae, ressalta que o desenho conta tanto da realidade objetiva quanto da subjetiva de quem o faz.
 Ela explica que há uma ampla gama de sinais reveladores nessa produção, mas eles não devem ser avaliados segundo um padrão. E aconselha investigar não necessariamente o diferente, mas aquilo que denota tristeza ou angústia. Desenhar e apagar seguidamente pode revelar apenas a preocupação em apresentar um resultado bonito. Ou, em alguns casos, certa angústia. Discernir entre uma situação e outra pressupõe contato e interação com o autor do desenho, não privilegiando o resultado estético, mas a história que a criança deseja contar. A representação de um acidente, por exemplo, não faz necessariamente parte da vida da criança. Às vezes, surge em seu desenho depois de algo visto na rua ou na TV.
 'Buscar o desenho na comunicação com crianças é privilegiar um referencial mais próximo delas', defende Paula Fontana Fonseca, psicanalista. Ela vê os recursos lúdicos como fortes aliados em situações traumáticas, mesmo quando a criança já domina o discurso verbal. O desenho pode ser de grande ajuda para a criança em situações como a violência doméstica – quando há dificuldade em falar, falta de compreensão do que aconteceu ou incapacidade de dar nome aos próprios sentimentos.
 Myrian Bove Fernandes, gestalt terapeuta, alerta para o perigo de se tirar conclusões precipitadas por causa do desenho dos pequenos: 'Imaginar que uma criança tem problema porque só pinta usando a cor preta, por exemplo, pode ser muito perigoso. Ela pode ter escolhido a cor porque dá mais contraste no papel e fica mais bonito.'
 Myrian lembra a preocupação de um profissional e dos pais de um garoto com o hábito do filho de picar minhocas. Procuravam investigar a causa de sua agressividade até ouvi-lo dizer para a minhoca esquartejada: 'Olha, agora você já tem muitos amiguinhos.' O caso serve para lembrar que enquanto o adulto corre o risco de se fechar em grandes teorias e volteios de interpretações, a criança pode simplesmente dizer que 'não é nada disso.'
 Um dos testes clássicos com utilização do desenho infantil é denominado HTP (sigla para House, Tree, Person, 'casa', 'árvore' e 'pessoa'). Trata-se de um tipo de teste de projeção e recebe esse nome por ter o objetivo de fazer a pessoa expressar fora o que está dentro. Os três elementos do HTP foram escolhidos por serem símbolos universais. Crianças de todo o mundo, em qualquer tempo, repetirão esses símbolos. A casa oferece uma riqueza de interpretações tanto no sentido de representar o abrigo familiar quanto a estrutura psicodinâmica da própria criança. A árvore representaria suas relações com o mundo e a pessoa, o 'eu'. O HTP é um teste com fundamento científico comprovado, bastante utilizado nas clínicas de atendimento psicoterapêutico infantil e em algumas instituições.
 Tereza Cristina afirma que a grande preocupação com a criança, principalmente na escola, é com relação à alfabetização e ao rápido domínio da linguagem escrita. Não haveria problema se essa expectativa de competência não concorresse, ao mesmo tempo, com uma certa repressão do ato de desenhar. 'Questões de lateralidade e uso de espaço, que poderiam ser mais bem resolvidas com a experiência do desenho, acabam sendo prejudicadas pela escrita.'
 A psicóloga conta que tem recebido em seu consultório crianças muito inibidas para desenhar. Uma delas, de 6 anos, havia sido informada para não fazer mais olho em formato de bolinha – tinha de se preocupar com as dobras das pálpebras. Enquanto são pressionadas pelo excesso de rigor estético em desenhos dos quais se exige cada vez mais realismo, as crianças são privadas de exercitar livremente a criatividade.
Aicil Franco, psicóloga clínica com formação junguiana, trabalha com crianças, adolescentes e adultos. Se a criança sente-se insegura para desenhar, Aicil aconselha o uso da argila ou da pintura. Além de ajudar a criança a se expressar, essas atividades proporcionam um equilíbrio emocional capaz de prevenir doenças físicas e afetivas. 'Se o professor se conscientizar de que o desenho, o teatro e a brincadeira são essenciais no mundo da criança, pode usar esses recursos para ensinar até matemática', acredita.
 O mais importante, entretanto, é perceber o quanto a criança se sente orgulhosa daquilo que faz. São atitudes altamente positivas a da mãe ao emoldurar o desenho do filho ou a do professor ao expor a ilustração do aluno no quadro da classe. A pior resposta do adulto é a indiferença.


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